No início da noite do último domingo, 19/02, o Bugre foi até o Canindé e acabou derrotado pela Lusa, (1×0) , entrando na zona de rebaixamento do Campeonato Paulista 2024, com cinco pontos e apenas três jogos para o fim da competição.
O técnico Claudinei Oliveira repetiu a escalação do último vexame que o Alviverde Campineiro protagonizou (na última quinta-feira, contra o Santo André), manteve o 4-4-2 disfarçado de 4-3-3 e mandou o Guarani a campo com: Vladimir; Heitor, Léo Santos, Rayan e Hélder; Anderson Leite, Camacho e Matheus Bueno; Reinaldo, Régis e Pablo Thomaz.
Com a bola rolando, foi o verdadeiro circo dos horrores. Tudo que já não havia dado certo, contra o Santo André, voltou a não funcionar, contra o Leão Rubro Verde. Só que, dessa vez, mesmo o pouco que o Bugre havia conseguido evoluir em sua última partida, simplesmente desapareceu, deixando a nítida impressão, no torcedor bugrino, que o time vem piorando a cada jogo e, ao que parece, seu treinador, tem contribuído bastante para isso. Um time apático, desorganizado, espaçado, sem transição (ofensiva ou defensiva) e sem criatividade (e competência) para, sequer, chutar uma bola no gol adversário.
O Alviverde Campineiro veio para o jogo com a mesma linha defensiva formada por quatro jogadores, com o lateral-direito Heitor atuando mais recuado, para ajudar os dois zagueiros na saída de bola e tentar dar uma sustentação maior nesse setor da defesa do Guarani, enquanto o lateral-esquerdo Hélder tinha mais liberdade para avançar e se juntar ao trio de meio-campistas (e até aos atacantes), para auxiliar na transição em progresso. Porém, com Régis, desta vez, caindo mais pelo lado esquerdo, a equipe ficou “pensa”, previsível e sem as movimentações que havíamos visto na última roda, contra o Ramalhão. Os três meio-campistas pareciam não se entender e não compreender as mecânicas do padrão tático em que o Bugre foi “armado”.
Com Anderson Leite cobrindo a dobra do lado direito e Matheus Bueno fazendo o homem de mais marcação, centralizado, restava a Camacho encontrar os espaços e os passes necessários. Mas o posicionamento do time meio que “obrigava” o Alviverde a buscar o lado esquerdo e isso foi rapidamente compreendido pelo time da Portuguesa, que marcava em bloco baixo/médio, mas saía para dar o bote e gerar desconforto na defesa do Guarani, forçando muitos erros, tanto na saída, quanto na transição. O ataque era totalmente inoperante. Pablo Thomaz quase não tocou na bola e Reinaldo fez mais uma partida apagada, enquanto Régis parecia tentar, mas, claramente, o estado físico ainda atrapalha (MUITO) o rendimento técnico do camisa setenta e oito do Bugre.
Se o ataque não funcionava, a defesa seguia, a risca, a cartilha do rebaixamento, com Léo Santos tendo que cobrir os erros de Rayan e ninguém conseguindo cobrir os erros do próprio Léo Santos, a Lusa foi começando a encontrar os espaços e gol parecia questão de tempo. Teve tento (bem) anulado, bola no travessão e, já nos acréscimos da primeira etapa, o lance que definiu a partida, quando, depois de uma bola invertida, da direita para a esquerda da defesa Alviverde, Hélder (ele de novo) se colocou em posição de antecipar o ala Douglas Borel e, na tentativa de afastar o perigo, atingiu o pé do adversário, cometendo pênalti, que precisou do VAR para ser confirmado.
Na cobrança, Giovanni Augusto deslocou o goleiro, fez o gol e protagonizou um dos momentos mais humilhantes da história recente do Guarani, se dirigindo ao setor onde estava a torcida do Bugre (que era maioria no Canindé) e fazendo gestos de como quem joga milho, zombou, incólume, do Alviverde Campineiro (mais uma vez). O constrangimento foi tamanho, que o lateral Eduardo e o volante Ricardinho, ambos atletas do Leão Alvi Rubro, mas, também, ex-bugrinos, tiveram que intervir, segurando as mãos do camisa dez da Portuguesa e pedindo respeito. Esse lance ficou marcado, principalmente, por duas situações: a primeira foi o fato de esse ter sido o quinto gol, consecutivo, sofrido pelo lado esquerdo defensivo do Guarani, que, recentemente, negociou seu lateral-esquerdo titular. O segundo foi a indiferença a apatia do time (elenco) com o pênalti marcado, com o gol sofrido e com o desrespeito do atleta da Lusa, em comemoração totalmente desrespeitosa e desnecessária.
E assim terminou o primeiro tempo da partida.
Assim, também, começou o segundo tempo do jogo.
Sem mudanças pelo lado bugrino, nem na parte tática e nem na parte anímica, parecia nem ter havido intervalo, já que o que se viu em campo, foi mais uma vergonhosa postura e atuação do Bugre.
Pouco depois dos dez minutos, Claudinei Oliveira colocou Gabriel Santos no lugar de Camacho e mudou o esquema de vez, para um 4-3-3, com pontas abertos (para tentar dar profundidade), um centroavante que (apesar de ter mais mobilidade) buscava preencher a área adversária e com Régis sendo recuado para o meio, para jogar centralizado, na armação/criação do time. Não adiantou. O time ficou ainda mais desorganizado, sem Camacho para ditar o ritmo, pelo lado do Alviverde Campineiro e, na verdade, foi a Portuguesa quem mais se aproximou de ampliar, do que o Guarani de igualar, o marcador.
Nada parecia funcionar, com o Bugre fazendo uma de suas piores atuações, individuais e coletivas, dos últimos anos, sem sequer criar uma única chance de gol, o jogo seguiu a passos largos, com os atletas bugrinos em ritmo (e ânimo) de quem carrega o caixão de um defunto, nesse caso, a instituição Guarani Futebol Clube.
Ainda haveria tempo para o técnico do Alviverde Campineiro tirar Hélder e Reinaldo, para as respectivas entradas de Diogo Matheus e Marlon. Assim Heitor passou a atuar na esquerda.
O Bugre passou a fazer uma saída em três com Matheus Bueno se colocando entre os zagueiros e dando liberdade para os laterais virassem alas e avançassem, dobrando com os atacantes de beirada, enquanto tentava fazer boas conexões na transição. Mas, além de não conseguir colocar em prática nada de positivo, Heitor mostrou a razão de chamarmos um jogador que atua fora da posição de “improvisado”. Em um (dos vários) contra-ataques da Lusa, Heitor chegou atrasado, deu um carrinho por trás no ala Thalles, do Leão Alvirrubro, e acabou expulso, em outro lance (bem) revisado pelo VAR.
Antes dos quarenta, da etapa final, o meio-campista Dênis, da Portuguesa, que havia entrado menos de vinte minutos antes, tomou o segundo amarelo e, também, foi expulso.
Nessa altura, com ambas as equipes com dez jogadores em campo, não havia mais obediência tática, organização, movimentação, padrão ou qualquer aspecto de um jogo de futebol profissional. A Lusa arrastava o jogo, picotando, fazendo cera e, com o final do jogo se aproximando, a fragilidade emocional e o desespero, praticamente obrigavam o Alviverde Campineiro a jogar a bola na área, mesmo quando a posse ainda estava em seu campo de defesa. Nem as entradas de João Victor e Márcio Silva, nas vagas de Pablo Thomaz e Matheus Bueno mudaram o ritmo e o funeral seguiu, nada mudou e o juiz apitou.
Sem ser torcedor da própria opinião, eu não vou dizer: “eu avisei” ou “todo mundo já sabia”, porque ser engenheiro de obra pronta não é minha praia. Não tenho prazer ou vejo vantagem em falar que “não foi por falta de aviso” ou “com um elenco desses, não dava para esperar nada diferente.” A minha sensação, diferente do que eu mesmo imaginava, foi vazia. Não houve raiva, xingamentos ou destempero. Assim como o jogo (que significou, quase que, um enterro antecipado) acompanhei a saída dos atletas, a dança das cadeiras, as repercussões e os desdobramentos de uma forma muito parecida com a atuação do Guarani, com uma sensação de derrota permanente e uma tristeza que quase não coube dentro de mim, daquelas que se sofre calado. Antes de me levantar, dei uma última olhada para o campo, no apagar das luzes, quando os repórteres recolhiam seus microfones, mesmo sem perceber, como se estivesse com o piloto automático ligado, balbuciei: descanse em paz, meu Bugrão.
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