Na noite da última quinta-feira, 15/02, o Bugre recebeu o Ramalhão, no Brinco de Ouro da Princesa e ficou em um decepcionante empate, sofrendo os dois gols nos últimos minutos da partida.
O técnico Claudinei Oliveira fez sua estreia pelo alviverde campineiro e promoveu três mudanças, na escalação, em relação ao último jogo: na zaga, Rayan (poupado contra o Novorizontino) retornou ao time titular, no lugar de Márcio Silva. No meio-campo, Anderson Leite também voltou aos onze iniciais, ficando com a vaga de Lucas Araújo. No ataque, com Bruno Mendes e Derek contundidos, Pablo Thomaz foi o escolhido para substituí-los.
Atuando em um “falso” 4-3-2-1, o Guarani foi a campo com: Vanderlei; Heitor, Léo Santos, Rayan e Hélder; Anderson Leite, Camacho e Matheus Bueno; Reinaldo, Régis e Pablo Thomaz.
Com a bola rolando, o que vimos, por parte do Bugre, foi uma formação tática com mecânicas e movimentações bastante incomuns, justamente para tentar surpreender o adversário que, como adiantei aqui, na análise do pré-jogo, tinha sua linha defensiva formada por três zagueiros e apenas um lateral de origem, que atuava pela esquerda.
Quando o alviverde campineiro atacava, buscava a saída curta, com seus defensores sendo ajudados pela aproximação de seus meio-campistas, para dar opções de passe, possibilitando triangulações e progressões, através de superioridade numérica. Pelo lado direito, Heitor “ficava” mais e recebia a ajuda de Anderson Leite, para dar sustentação a esse setor do campo.
Na outra beirada defensiva, Hélder tinha espaço e orientação para “subir”, criando dobras, tanto com os meio-campistas, quanto com os atacantes, fazendo ultrapassagens e sendo presença ofensiva constante. Para ajudar nessa transição, Regis se deslocava para o meio, confundindo o sistema de marcação do Gigante do ABC, enquanto Reinaldo e Pablo Thomaz avançavam, tentando dar profundidade e atacar os espaços nas costas dos zagueiros inimigos.
O Santo André percebeu a necessidade de preencher o meio-campo e, para não deixar que o Guarani saísse com tanta liberdade, subiu a suas linhas. Com um meio-campo formado por três volantes e um ala (este, sim, pela direita), congestionou o setor e truncou o jogo. Assim, os primeiros minutos foram de muitos erros de passe e más escolhas defensivas e ofensivas, de ambos os lados.
Pouco a pouco o Bugre pareceu conseguir encaixar seu jogo e, quando não conseguia essa saída curta, buscava a bola longa, pelos lados do campo. Isso gerou desconforto no Ramalhão que, sem conseguir fazer a leitura tática imediata, desencaixou a marcação e começou a sofrer com essa profundidade e com a velocidade que os atacantes bugrinos imprimiam, criando espaços entre os meio-campistas, que subiam para fazer a “marcação alta”, e os zagueiros, que “baixavam” para não tomar a famosa “bola nas costas”.
E, mesmo sem ser brilhante, foram nessas jogadas e nesses espaços que o alviverde campineiro conseguiu seus dois gols e foi para o intervalo com uma vantagem considerável (2×0) e uma sensação de que os bons ventos haviam voltado ao Brinco de Ouro, com a possibilidade da primeira vitória em casa, nesta temporada.
Mas, já na volta do intervalo, o Gigante do ABC mostrou que não tinha motivos para abandonar o jogo, adotando uma postura que lembrou a velha máxima “perdido por dois, perdido por dez” e adiantando de vez todo o time, com os volantes andreenses vindo dar combate na saída de bola bugrina. O Guarani respondeu recuando suas linhas e, mesmo com um volume maior, por parte do Santo André, o caminho para a vitória parecia pavimentado, já que o inimigo rondava, mas não oferecia perigo. Mas só parecia.
Entre os quinze e os vinte e cinco minutos do segundo tempo, com as saídas de Régis, Camacho e Anderson Leite, para as entradas de Chay, Marlon e Lucas Araújo, o Bugre passou a atuar em um 4-3-3, com a linha defensiva mantida, mas com o “cinturão” de meio-campo, desfeito, já que, agora tinha Chay, mais adiantado, e Lucas Araújo e Matheus Bueno, mais recuados, jogando lado a lado.
Os espaços começaram a se oferecer para o Ramalhão, principalmente pelas beiradas, com o técnico Márcio Fernandes fazendo alterações pontuais e colocando os andreenses em situação de controle do jogo. O alviverde campineiro ainda dependia do recuo dos extremos ofensivos para ajudar a criar dobras de marcação, enquanto tinha em campo um Pablo Thomaz, beirando o esgotamento, isolado, correndo de um lado para o outro, sem conseguir ajudar, efetivamente.
Sabe quando dizem que “Água é mole e pedra é dura, tanto bate, até que fura”? Pois é. O Gigante do ABC fez jus ao apelido e cresceu no jogo a ponto de sufocar um frágil Guarani que, cada vez mais, baixava suas linhas, trazia o adversário para dentro do seu próprio campo e deixava espaços, novamente, pelo lado esquerdo, por onde já haviam saído os gols da última derrota do Bugre (contra o Novorizontino).
O Santo André deu uma mostra do desastre que viria a seguir quando teve seu primeiro gol (bem) anulado pelo VAR, por impedimento de Richard, na origem da jogada, em cruzamento que acabaria na cabeçada de Bruno Michel, para o fundo das redes. Mas parece que o alviverde não percebeu que aquele lance não era um mero acaso, pois nada mudou, principalmente, em relação a postura displicente e apática da equipe, já que, minutos depois, em jogada pelo mesmo setor, novamente Richard, recebeu com liberdade e cruzou. Léo Santos, atrasado (de novo), cometeu pênalti. Lohan descontou para Ramalhão, 2×1.
Tentando frear o ímpeto do Gigante do ABC, Claudinei Oliveira acionou Diogo Matheus e Márcio Silva, que entraram no lugar de Reinaldo e Rayan, respectivamente, tentando oxigenar a defesa e fazer uma dobra de marcação no setor direito, da defesa do Guarani.
Só que o problema não estava daquele lado e, menos de cinco minutos depois, novamente ele, Richard, achou Wellington Reis, nas entrelinhas do lado esquerdo da defesa bugrina. O, também, volante ainda se livrou de dois marcadores e bateu cruzado, no canto, para empatar a partida.
O resto é história. Uma história cada vez mais triste e difícil de acompanhar chamada “torcer para o Guarani”. E, como sempre, logo começa a dança das cadeiras nos bastidores do teatro dos horrores. Troca esse, muda aquele e ninguém percebe que o buraco é mais embaixo. Ou, no caso do Guarani, mais encima. Ou, talvez, o errado sejamos nós, já que todos os envolvidos no virtual rebaixamento do Bugre continuam se comportando como cavalos no feriado de sete de setembro: cagando e andando para o que está, realmente, acontecendo.
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