Na noite da última quarta-feira, 24/01, o Bugre entrou em campo, pela 1ª vez, utilizando o padrão tático característico do treinador Umberto Louzer e escalado no 4-2-3-1, posicional.
E, aqui, é importante explicar 2 situações:
- Foi a 1ª vez que o treinador do Bugre pode montar e escalar o time dentro de seu esquema e padrões táticos, já que, no ano passado, por ter chegado ao Brinco de Ouro com o campeonato em andamento, Umberto Louzer optou por implantar sua estilo de jogo pouco a pouco, tentando fazer com que as mudanças (mesmo que pontuais) fossem absorvidas de forma natural, pelo elenco, levando em consideração as peças (jogadores) que tinha a disposição e sabedor de que começar tudo do zero, não seria o ideal, naquele momento. Umberto optou por potencializar jogadores, injetar soluções, acelerar a produtividade e extrair o máximo (e o melhor), coletiva e individualmente, visando o bem do time, mas levando em consideração as características e o que já vinham realizando os atletas, naquele momento.
- O tal jogo posicional, adotado por Umberto Louzer, nada mais é do que um padrão tático (ou conjunto de mecânicas) usado para que a equipe consiga progredir com a bola através da criação de triângulos ou losangos que dêem ao condutor da bola espaço e variadas opções de passe, em qualquer momento do jogo.
A saída em 3 (Lavolpiana), tão comum no futebol posicional, esteve presente desde o apito inicial, tanto com Mayk fazendo a 3ª opção, pela esquerda (enquanto Heitor avançava), quanto quando Camacho recuava entre os zagueiros e deixava que os laterais balançassem a marcação, deslocando os marcadores para encontrar o passe por dentro, quase sempre com Matheus Bueno. Essas inversões causaram confusão na marcação do São Bernardo e facilitaram a transição do Bugre que, mesmo enfrentando dificuldades (e nós vamos falar delas já já), funcionou bem durante quase toda a partida.
O meio-campo, mais uma vez, foi o ponto forte do Guarani, mesmo enfrentando um adversário com mais físico, que tentava, a todo momento, buscar superioridade numérica neste setor. Enquanto o posicionamento, a qualidade técnica e a inteligência tática de Camacho permitiu, o futebol de Matheus Bueno acabou potencializado e o meia Chay (mesmo longe da forma e ritmo ideais) mostrou como se comporta um meia “ponta de lança”, buscando jogo, dentro e fora da área, caindo pelos lados, invertendo com os atacantes de beirada e aparecendo na área para tentar um passe ou uma finalização. Que fique claro que não há nenhuma tentativa de dizer que a execução foi perfeita, que as mecânicas funcionaram ou que foi uma exibição de gala. Porém, taticamente, ficou clara a postura do alviverde, com aproximação, troca de passes e qualidade nas leituras posicionais.
O ataque, mesmo com Derek sendo, mais uma vez, um dos destaques do jogo, teve, principalmente nos seus jogadores de beirada, o setor que menos produziu. E é claro que, assim como o sistema defensivo começa com os atacantes, o sistema ofensivo, que começa com os zagueiros, não conseguiu contribuir com as performances esperadas, para que a superioridade fosse criada, os espaços encontrados e, por consequência, mais oportunidades surgissem.
Defensivamente o Guarani se apresentou mais agressivo e, montado no 4-4-2, quase não ofereceu campo ao adversário que teve quase todos os seus pontos fortes anulados. Desde o início, a marcação bugrina variou suas linhas e deixou o adversário desconfortável. Mas foram, justamente, os 11 iniciais do adversário que deram suporte para que a marcação encaixasse, o jogo ficasse truncado e, independente da quantidade de inversões e variações que o Guarani apresentasse, o Bernô tinha sempre uma solução defensiva para responder. O time do ABC não surpreendeu na formação tática (3-4-3) mas, sim, na sua postura, mais voltada a destruir do que de construir. E o São Bernardo veio assim e assim permaneceu.
Principalmente para quem esperava que o São Bernardo fosse enfrentar o Guarani, foi estranho ver a postura do time visitante, atuando pelo empate e MUITO mais preocupado com a defesa do que com o ataque. E isso, sim, colocou o alviverde em dificuldades. O Bugre esperava um adversário que jogasse e permitisse jogar e não um 5-4-1 apoiado, tornando o jogo, em diversos momentos, feio e longe de se parecer com o esporte “futebol de alto rendimento”.
E, no final do 1º tempo, o Guarani quase foi premiado por colocar o jogo em campo, contra o anti-jogo do São Bernardo, em lance bastante polêmico, com Derek finalizando, já caído, e o goleiro Alex Alves salvando encima da linha (ou não). Mas como o VAR não tinha um ângulo que pudesse fornecer uma imagem conclusiva, a decisão de campo foi mantida e, para a surpresa de um total de ZERO pessoas, foi prejudicial ao Bugre.
Na sequência do jogo, tudo que podia tentar, foi experimentado. Umberto Louzer mudou o meio-campo para oxigenar o setor que mais correspondia, mas também mexeu no ataque, colocando um centroavante de origem (Bruno Mendes) e um jogador mais versátil (Gabriel Santos) para tentar igualar o jogo físico do Bernô. Nada adiantou. A cada mudança do treinador do Guarani, Márcio Zanardi, técnico do São Bernardo, aumentava o número de defensores e assim o jogo se arrastou pelo tempo que o time do ABC queria e para um caminho diferente do que esse time do Guarani, e seus 11 que terminaram a partida, não esperava e não poderia ser pior.
No final o Guarani pecou, principalmente, na efetividade (o detalhe que ganha campeonatos). Mesmo criando menos ou, na melhor das hipóteses, a mesma quantidade de chances do 1º jogo (contra o Corinthians), o volume de jogo foi maior (e os números do jogo estão aí para quem quiser ver) e, do mesmo jeito, o resultado não veio. A falta de entrosamento, o nervosismo/ansiedade dos jogadores e a falta de ritmo, aliada as substituições que não sustentaram o nível de atuação dos primeiros 2/3 do jogo, deixaram um gosto amargo na torcida bugrina, que enfrentou uma noite fria e esperava um final mais feliz para esse filme dramático.
Conteúdo relacionado: Análise tática Paulistão São Bernardo