No final da tarde do último domingo, 25/02, o Bugre recebeu o Tricolor Paulista, no Brinco de Ouro da Princesa, em jogo que terminou empatado (1×1) e aumentou o jejum de vitórias do Alviverde Campineiro para sete partidas.
O técnico Claudinei Oliveira teve uma semana “cheia” para trabalhar seus conceitos, implantar seu padrão de jogo e começar a colocar em prática suas próprias ideias sobre como o time deve jogar.
Com a clara intenção de, nesse primeiro momento, “consertar” a defesa, e sabedor da força ofensiva do adversário, o treinador colocou o zagueiro Márcio Silva no lugar do meio-campista Matheus Bueno, passando a atuar em um 5-3-2, totalmente reativo e posicional. Diogo Matheus também voltou para a lateral-direita dos onze iniciais, no lugar de Heitor, suspenso.
Assim o Guarani foi a campo com: Vladimir; Diogo Matheus, Léo Santos, Márcio Silva, Rayan e Hélder; Anderson Leite, Camacho e Régis; Pablo Thomaz e Gabriel Santos.
Logo que a bola rolou, ficou perceptível que o Soberano do Morumbi viria para cima, com a intenção de ganhar o jogo. Thiago Carpini montou sua equipe em um 4-3-3, com dois zagueiros, dois laterais que avançavam como alas, dois volantes, com Alisson tendo mais liberdade de movimentação, Michel Araújo como um meia centralizado, encarregado de gerar situações de gol no último terço, os dois pontas bem abertos, dando profundidade e “alargando” o campo, além um centroavante fixo, para preencher a área.
O Bugre, por sua vez, quando tinha a bola, variava para um 3-5-2, com os três zagueiros jogando em linha, oferecendo o primeiro passe da saída de bola. Na segunda linha os laterais se posicionavam lado a lado com os volantes, dando opção de transição curta, pela extrema ou pelo meio, enquanto Régis se aproximava dos atacantes que, hora buscavam as costas dos laterais adversários, proporcionando as jogadas pelas beiradas, hora tentavam espaços nas entrelinhas inimigas ou no contrapé dos zagueiros tricolores, em situações de infiltração.
O jogo começou movimentado, é claro, com cada time atuando dentro de sua proposta. O São Paulo fazia uma marcação em bloco médio “flutuante” mas, assim que o Alviverde Campineiro iniciava sua saída aproximada, o Tricolor subia sua defesa, causando desconforto na zaga bugrina que, pressionada, era forçada a cometer erros ou a fazer a bola longa, na maioria das vezes, ineficaz. Do outro lado, com o Guarani atuando com suas linhas mais recuadas, em um 5-4-1 compacto, com os laterais “baixando” até a linha dos zagueiros e os atacantes ajudando na recomposição pelas beiradas, possibilitando a dobra defensiva.
O Tricolor até tinha espaço em seu próprio campo, para progredir com troca de passes curtos e uma saída transicional muito mais eficiente. Mas, ao tentar ganhar terreno, o Soberano do Morumbi dava de cara com o ferrolho do Bugre que, a partir do meio campo, congestionava o setor central e dificultava ações efetivas de seu oponente. Só que, aos poucos, os espaços foram aparecendo e, mesmo antes do VAR chamar o árbitro, aos vinte minutos de jogo, para avisar sobre uma penalidade cometida pelo zagueiro Leo Santos (ele de novo), em Pablo Maia, o São Paulo já havia criado, pelo menos, três chances claras para abrir o placar.
Lance checado, pênalti marcado e gol do Tricolor Paulista. O desespero do torcedor do Guarani parecia começar a se transformar em uma forma abstrata de sofrimento desconsolado, muito semelhante ao atual elenco do Bugre.
Porém, diferente do imaginado, a partir daí, o jogo começou a ficar equilibrado, com o Alviverde Campineiro tentando criar mais volume ofensivo, sabendo da tragédia que mais uma derrota significaria, enquanto o Soberano baixou as linhas (e a guarda), imaginando que, com a porteira aberta, passar com a boiada seria algo natural. Mas o que vimos foi um jogo franco, com ambos os times criando oportunidades e perdendo-as, no mesmo ritmo e intensidade. Não era mais um “ataque contra defesa” e, mesmo com suas carências técnicas escancaradas, o Guarani chegou ao ataque, com Leo Santos pegando um rebote e, quase como um lateral-direito, indo ao fundo e tentando cruzamento, que Wellington cortou para escanteio.
Na cobrança, Márcio Silva cabeceou, a bola bateu na zaga são-paulina e ficou “viva”. Leo Santos (ele de novo) apareceu para, com o bico da chuteira, empurrar a bola para o fundo das redes, empatando a partida e levando a igualdade para os vestiários, segundos depois, quando o árbitro encerrou o primeiro tempo.
A volta do intervalo veio com alterações do lado do São Paulo, enquanto a principal mudança no Bugre, foi a atitude. Mesmo dentro de suas limitações, o Alviverde pareceu começar a entender os espaços que seu adversário dava
Aos cinco minutos, Camacho, que vinha ditando o ritmo ofensivo e defensivo do Guarani, sentiu o joelho, ao tentar roubar uma bola na intermediária, e precisou ser substituído. Matheus Bueno foi acionado. Troca de jogadores, mas manutenção do posicionamento e do esquema tático.
Aos quinze minutos mais duas substituições no Bugre: saíram Gabriel Santos e Régis para as entradas de Reinaldo e Gustavo França, respectivamente. E foi aí que o Alviverde, depois de um início de menos intensidade e de busca por um encaixe, defensivo e ofensivo, encontrou caminhos para explorar a velocidade de seus homens de frente e do posicionamento adiantado da defesa tricolor.
Do lado do Soberano do Morumbi, mudanças e mais mudanças acabaram por desorganizar o time, que continuava a empurrar o Guarani para trás, mas quase não encontrava espaços, devido a proximidade das linhas defensivas do Bugre que, por sua vez, tentava espetadas rápidas e, com transições ofensivas velozes, criou três das melhores chances da partida, para virar o marcador.
Com metade do segundo tempo já tendo sido disputado, Claudinei Oliveira, enxergando esses espaços para jogar (e ganhar), promoveu mais duas trocas, por motivo de cansaço (mas com o intuito de oxigenar o ataque e fortalecer a defesa), com Marlon e Lucas Adell (!!!) nas vagas de Pablo Thomaz e Hélder, que saíram esgotados, fisicamente.
E com o passar do tempo (principalmente depois dos vinte e cinco da segunda metade do jogo) apesar da superioridade técnica do São Paulo, foi o Alviverde quem esteve melhor. Sem conceder espaços e não permitindo que seu adversário criasse praticamente nada, ainda encontrava, na velocidade (e no esforço) de seus jogadores, ter, pelo menos, mais três chances de virar o marcador, sendo o último deles, no minuto final da partida, quando Marlon achou Anderson Leite penetrando nas costas da zaga inimiga, fez o passe e o volante, cara-a-cara com o goleiro Rafael (mas sem força física ou mental), finalizou encima do arqueiro do Tricolor Paulista, em lance que decretou o final da partida.
O empate com um time grande e o ponto conquistado, são importantes, sim, para sonhar com a permanência na série A1 do Paulistão. Mas, principalmente, escancaram que, com esse elenco, nunca poderia ter se falado em “OBRIGAÇÃO DE CLASSIFICAÇÃO”, quando a realidade era “LUTA POR PERMANÊNCIA”. A verdade é que se a reflexão for muito profunda, o torcedor morre afogado, já que, se der a lógica, serão dois rebaixamentos e um retorno, triunfante, para 2007. Por mais que isso possa parecer uma crítica, não é. É a óbvia constatação de que transformaram o Guarani no “XV de Campinas” (sem querer desmerecer o XV) através de anos de times extremamente mal montados e, para quem tiver coração (e estômago) para mais, se prepare pois, com a falta de dinheiro, tempo, janela e conhecimento, não haverá a chance de “remontar”, como foi feito em outros anos. Nos resta, de fato, olhar o Bugre com os mesmos olhos que o treinador Claudinei Oliveira fez e entender que agora os pequenos somos nós (afinal quem eram Novorizontino e Mirassol cinco anos atrás?) e que jogar com linhas mais baixas (retrancado que fala?) e apostar em lances fortuitos para “achar” gols, talvez, seja, mesmo, a nova realidade do nosso Alviverde Campineiro. Triste dizer. Triste escrever. Mas a pior de todas as tristezas continua sendo torcer.
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