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Análise Tática: Guarani 2×3 Mirassol

Por Nossa Taba, em 02/02/24

Na noite da última quarta-feira, 31/01, o Bugre recebeu o Mirassol, no Brinco de Ouro da Princesa, buscando a sua segunda vitória consecutiva no Paulistão 2024 (a primeira em casa) e a quebra de um tabu de 11 anos sem vencer o Mirassol pelo Estadual. Umberto Louzer manteve o 4-3-3 “posicional” e o padrão tático do meio de campo, com três “meias de ligação”, que funcionou tão bem contra o Ituano.

Assim, os onze iniciais foram: Douglas; Heitor, Léo Santos, Rayan e Mayk; Anderson Leite, Camacho e Matheus Bueno; Reinaldo, Derek e Bruno Mendes.

Porém, apesar do discurso de que “conhecia o adversário”, o alviverde entrou muito desatento e, mesmo sabendo da marcação pressão do Mirassol, pareceu subestimar seu oponente, que não encontrou dificuldades para subir as linhas, forçar um erro na saída de bola bugrina e trocar passes, em superioridade numérica, até a bola chegar em Delatorre. O centroavante do Leão só teve o trabalho de empurrar a bola para a rede, com o gol vazio. Tudo isso com, apenas, cinco minutos de jogo.

Mas o Guarani pareceu não sentir o gol, se reorganizou taticamente (principalmente nas transições) e, através de instruções de seu treinador, passou a buscar as saídas e progressões pelos lados do campo, hora com Derek, pela esquerda, dobrando com Mayk, hora com Reinaldo, pela direita, dobrando com Heitor. E aqui o trio de meio-campistas do Bugre começou a fazer a diferença, encontrando bons passes, encorajando o setor ofensivo a atacar os espaços vazios, para alargar e aprofundar o jogo, fazendo com que a defesa leonina, mesmo que momentaneamente, se desencaixasse.

Em um desses ataques, enquanto Derek “abriu” para atrair a marcação, Camacho achou bom passe para a infiltração de Matheus Bueno, na linha lateral da área, entre o lateral-esquerdo e o zagueiro adversários. No lance, o meio-campista acabou interceptado, mas ganhou escanteio. Na cobrança, apesar de Muralha ter operado um verdadeiro milagre, em cabeçada de Derek (olha ele aí de novo), ficou claro que os cruzamentos, principalmente na bola parada, poderiam ser o caminho para o alviverde conseguir seu gol.

E não demorou para isso acontecer.

No lance seguinte, novamente Matheus Bueno apareceu como homem surpresa, mostrando a versatilidade desse sistema, para finalizar da entrada da área. A bola acabou desviando na zaga e saindo para novo escanteio bugrino. Era o Guarani quem, nesse momento, subia suas linhas e tinha o controle do jogo. Na cobrança de Mayk, enquanto os zagueiros atraiam a marcação para o meio da área, Bruno Mendes, em uma das jogadas mais fortes do camisa 9, cabeceou, no primeiro pau, forte, para baixo. O goleiro do Mirassol chegou a tocar na bola, mas ela morreu no fundo da rede, empatando a partida.

A partir daí, com esquemas táticos bastante semelhantes, o jogo ficou equilibrado, mas com o Guarani tendo as melhores oportunidades, principalmente nas jogadas aéreas.

Ambas as equipes seguiram com suas linhas altas, mas a intensidade foi baixando e o final do primeiro tempo chegou.

Do lado do Guarani, a defesa parecia ter encontrado um encaixe, na transição defensiva, e fazia o 4-5-1 posicional, com subidas em bloco, na busca por recuperar a bola ou matar a jogada. Ofensivamente, atacando no 2-3-5, o meio-campo ditava o ritmo de um time que, até aquele momento, tinha mais posse, melhores estatísticas e que, graças ao volume que a linha de frente produzia, através do enfrentamento, velocidade, dobras e inversões, havia tido, pelo menos, duas chances (claras) para virar o marcador.

O segundo tempo veio e a desatenção que custou o primeiro gol do Mirassol pareceu ter voltado junto. Em cinco minutos o Leão criou três boas jogadas ofensivas e parecia questão de tempo para o gol adversário sair.

Mesmo em dificuldade, pouco a pouco, através da qualidade de seu meio-campo, o Guarani colocou a bola no chão e parecia tentar recuperar o rumo.

Por volta dos quinze minutos do segundo tempo, entendendo que havia espaço e oportunidade para ganhar o jogo, Umberto Louzer colocou o meia Chay no lugar de Matheus Bueno, mas, por questões físicas, tirou Camacho e colocou Lucas Araújo. E aqui, além de enfatizar que o Guarani voltou para o esquema 4-2-3-1 (4-4-2 defendendo e 2-3-5 atacando) eu entendo a crítica que muitos fizeram a atuação do camisa 10 bugrino que pouco (ou nada) acrescentou ofensivamente, além de não ter ajudado na sustentação defensiva. Mas essa foi uma mexida tática e, já que o Mirassol jogava sem um cabeça de área, posicionar um jogador naquele setor, gerou uma vantagem tática para o Bugre, já que o armador passou a atuar bastante avançado, fazendo com que o ataque alviverde ficasse, praticamente, no mano a mano, com a defesa leonina.

Só que, ao mesmo tempo, as transições ficaram extremamente prejudicadas com a saída de quem, hoje, é a referencia técnica desse time: o meio-campo Camacho.

As mudanças no Guarani surtiram efeito quase que imediato. Enquanto o Mirassol baixou suas linhas e diminuiu a pressão para tentar se reorganizar, o Bugre aproveitou a vantagem e Léo Santos fez a bola longa para Reinaldo. O lateral-atacante Warley teve que usar toda a sua velocidade e força para, com um carrinho, colocar a bola para a linha de fundo. Na cobrança de escanteio do próprio Reinaldo, Derek (sempre ele) desviou e a bola sobrou para Bruno Mendes, na entrada da pequena área, dominar, tirar do goleiro e virar o jogo para o alviverde.

O Mirassol, que não havia reagido bem ao gol de empate, pareceu ter se abalado, ainda mais, com a virada sofrida. Mesmo com as primeiras mexidas do técnico Mozart, o Leão não parecia ter forças (ou formas) para igualar o placar.

Entretanto, o tempo foi passando e os jogadores, já desgastados pela sequência de jogos, foram chegando ao seu limite físico. E isso ocorreu dos dois lados, com ambos os times. E foi justamente aí, nesse ponto, que o tal “cobertor curto” fez a diferença.

Enquanto Mozart oxigenava todos os setores de sua equipe, colocando jogadores que mantinham (e até aumentavam) o nível de atuação e a intensidade do time, Umberto Louzer era obrigado a escolher quem trocar, com a intenção de manter o time “em pé” e dar sustentação a uma equipe que tinha a maioria de seus jogadores se arrastando em campo. Isso, inclusive, se refletiu em uma cena bizarra, por volta dos trinta minutos do segundo tempo, quando o Guarani foi promover duas alterações e a indecisão sobre quem deveria deixar o campo culminou na expulsão do auxiliar técnico, Ricardo Chuva. Resolvido o impasse, saiu Anderson Leite para a entrada de Wenderson e Reinaldo acabou substituído por João Victor.

As linhas começaram a se descompactar, já que Chay e Bruno Mendes não conseguiam acompanhar a transição defensiva e a segunda linha não sustentava, nem pelas pontas, com Derek e João Victor, nem pelo meio, com Wenderson e Lucas Araújo. O que era um time, virou um catado, sem tática, sem padrão, sem organização.

Como tudo que é ruim, pode piorar, Heitor, com fortes cãibras, pediu para sair e em seu lugar entrou Iago Teles. Isso mesmo. Aos trinta e quatro minutos do segundo tempo, mesmo vencendo o jogo e sendo pressionado, o técnico do Guarani optou por deslocar um ponta para a lateral e colocar outro ponta, mais avançado.

O castelo de cartas ruiu.

Apenas um minuto depois da saída de Heitor e com cinco minutos desde a saída de Anderson Leite e Reinaldo, a liberdade foi tamanha que o zagueiro Gazal, do Mirassol, cruzou da intermediária mesmo, Léo Santos perdeu o tempo da bola e Delatorre cabeceou para o único lugar possível, levando em conta seu posicionamento. Esse “único lugar” foi, justamente, no contra-pé do goleiro Douglas, igualando o placar da partida.

Diante da fragilidade quase paupável, do Guarani, o Mirassol e seu treinador só precisaram fazer a leitura do que restava do jogo. Oito minutos após empatar, o Leão recuperou a bola e desceu para o ataque. O Guarani, por sua vez, só assistiu. Paulinho Bóia, que acabará de entrar, tocou, recebeu de volta e, quase que totalmente livre, bateu, da entrada da área, no canto esquerdo do goleiro Douglas, para virar o placar: Guarani 2×3 Mirassol.

O choque de realidade parece ter petrificado alguns, enquanto esvaziava outros. Quando o juíz apitou o final do jogo, time, técnico e torcida pareciam perdidos. Incrédulos diante de tamanha passividade e incompetência. Um gosto amargo que a tática nunca poderá explicar.

Na entrevista coletiva, o treinador Umberto Louzer disse que “esse é o tipo de jogo para se esquecer” mas acho que ele não sairá, tão cedo, da memória da torcida bugrina.

Segue o jogo, segue o baile. O mesmo banco, a mesma praça… só que uma hora a torcida cansa e, pelo que vimos nos últimos anos, pode ser que essa “hora” não esteja, assim, tão distante.

E para prestar um serviço ao torcedor do Guarani, fica aqui o time que terminou o jogo, muito mais próximo, em postura e atitude, do Bugre de 2023 do que a torcida poderia imaginar.

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